A sociedade da época estava dividida em clero, nobreza e povo.
Os
trovadores, compositores das cantigas, tinham uma classe social mais
elevada. Os segréis, eram os trovadores profissionais, pois recebiam por
seu trabalho e eram fidalgos, enquanto os jograis atuavam para divertir
o povo com a música, literatura, mímicas, etc.
Com
relação as composições, as Cantigas de Amor eram a "religião do
trovador", pois expressava um culto à mulher amada, que era denominada
de senhor e nunca revelada na cantiga, visto que era casada e na época,
as solteiras não tinham significação social. A vassalagem passava pelos
seguintes estágios: suspiro, súplica, namoro e drudo. O amor cortês
era composto por paciência, fidelidade, esperança, honra e discrição,
pelo fato da dama ser casada.
As Cantigas
de Amor tratavam do eu-lírico feminino, embora escritos por homens,
visto que naquela época as mulheres não tinham permissão de fazer tal
coisa. Relatavam, em sua grande maioria, as camadas populares que
dirigiam a coita amorosa à mãe, irmã ou à natureza, queixando-se da
ausência do amado.
Já as Cantigas de
Escárnio e de Maldizer eram as Satíricas. A primeira, construída
indiretamente, por meio de ironia; a segunda, agressiva e aberta.
A literatura retrata o que ocorre no período, seja como escapismo para as barbáries da época (vide Oliver Twist, que retrata as explorações do período da Revolução Industrial Inglesa) ou como grande fonte de inspiração para os escritores.
Cantiga de Amor de Pero Garcia Burgalês:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer!
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer!
Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
rogu’eu que mi a faça veer;
e se mi a non fazer veer.
Sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem outre já, mentr’ eu o sem
houver; mais s perder o sem,
dire[i]-o com mingua de sem;
Ca vedes que ouço dizer
que mingua de sem faz dizer
a home o que non quer dizer!
Aqui podemos ver a confissão dolorosa de um amor não correspondido.
Cantiga de Amigo - D. Dinis
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
Nesta
cantiga, notamos a coita da moça, que suplica à natureza querendo saber
onde está o "amigo", ou seja, "o namorado" dela, que mentiu no que
havia lhe jurado.
Cantiga de Maldizer de Afonso Eanes de Coton:
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
Notamos que nesta cantiga de maldizer o trovador é direto, fala mal da "Marinha" diretamente.
Cantiga de Escárnio:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…
Percebemos que nesta cantiga, há ironia, mas o trovador a chama de dona fea e não a nomeia, além de chamá-la de louca e velha.
É importante ressaltar que as cantigas eram musicadas e podiam ser dançadas.
Por
serem transmitidas oralmente, muitas foram perdidas. As cantigas que
conhecemos hoje podem ser encontradas nos seguintes Cancioneiros:
Cancioneiro da Ajuda (composto no reinado de Afonso 3º, no final do século 13, tem 310 cantigas, a maioria de amor;
Cancioneiro da Biblioteca Nacional: 1.647 cantigas, de todos os tipos, elaboradas por trovadores dos reinados de Afonso 3º e dom Dinis.
Cancioneiro da Vaticana: possui 1.205 cantigas de todos os tipos.
Cancioneiro da Biblioteca Nacional: 1.647 cantigas, de todos os tipos, elaboradas por trovadores dos reinados de Afonso 3º e dom Dinis.
Cancioneiro da Vaticana: possui 1.205 cantigas de todos os tipos.
Escrito por: Mirian Regina Mendes
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