quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Literatura e Crítica Literária e Gêneros Literários




Literatura e Crítica Literária

O valor na literatura

Há uma expectativa e uma esperança sempre presentes quando um leitor entra numa livraria para comprar um livro ou mesmo quando abre um jornal para consultar a lista dos mais vendidos. O leitor espera que o livro que ele vai escolher a partir desses dois cenários a livraria e o jornal – sejam bons.
Ora, quem dirá a ele qual o livro que deve ser escolhido? Os especialistas. No caso do livro literário, espera-se que os especialistas da crítica literária sejam capazes de dizer quais são os bons livros, ou seja,  aqueles que merecem ser lidos.
A discussão sobre o valor na literatura envolve, pelo menos, dois princípios: o valor da literatura, de modo geral, e o valor da obra, de modo específico.
A crítica literária e as outras instituições

Quando nos referimos aos especialistas da área de literatura, estamos pensando em professores e pesquisadores de literatura e também nos críticos literários. Esses profissionais atuam, principalmente, em três instituições sociais que, a rigor, definem e creditam o valor de uma obra literária: a escola, a  universidade (ou academia) e a imprensa.
A escola representa aqui a instituição responsável pela formação básica do cidadão, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. É na escola que a criança e o jovem entendem o que é o livro e como  ele funciona socialmente; os livros que a escola acolhe em suas classes são valorados a priori, ou seja, o  livro que chega à classe escolar carrega consigo um valor formativo; ele é, literalmente, um  clássico o livro das classes escolares.
A universidade (ou academia) representa o ambiente em que o conhecimento é produzido e avaliado sem as determinações externas, sejam de ordem social ou econômica. Embora não possamos dizer que as universidades são ilhas isoladas do resto do mundo, é lá que o estudioso encontra o ambiente propício para produzir conhecimento e valor protegido das imposições e interesses de outra ordem.
 
Dentro das universidades se produz a avaliação teórica dos textos literários e, simultaneamente, a sistematização daquilo que se produz em literatura. A avaliação e a sistematização da literatura, produzidas dentro da universidade, orientam a ação de professores e especialistas que atuam na escola. Assim é que as duas instituições – escola e universidade – devem estar em constante diálogo e mútua colaboração.

A imprensa acolhe o discurso crítico sobre a literatura. As revistas, os jornais, os programas de televisão e também a internet são suportes em que o discurso crítico se apoia para chegar ao grande público. O processo para alcançar cada um desses meios é bastante diverso; sabemos que, para escrever em uma revista especializada em literatura, o crítico literário precisa ser reconhecido como profissional, e em jornais de importante circulação se dá o mesmo. Já na internet, qualquer um de nós pode postar a sua avaliação crítica de qualquer obra sem nenhuma restrição. A diversidade dos meios em que a crítica literária circula amplia seu alcance e seu poder de avaliação. Ao pensarmos em determinado livro é comum que a base para o julgamento do seu valor seja a opinião expressa de determinado crítico em uma revista, um jornal, programa de televisão ou mesmo na internet

O julgamento crítico

Antoine Compagnon (2003) afirma que o público espera que os profissionais da literatura lhe digam quais são os bons e quais são os maus livros; que os julguem, separem o joio do trigo, fixem o cânone.
Cânone literário é o conjunto das grandes obras clássicas, aquelas cujo valor não pode ser questionado, pois já está consolidado na cultura de determinada sociedade. Um exemplo para a literatura brasileira é Machado de Assis; ele já pertence ao cânone literário brasileiro, ou seja, o valor da sua obra não pode, ou pelo menos não deve, ser questionado. O mesmo não acontece com a obra de um autor como Paulo Coelho,cuja avaliação especializada ainda não se consolidou; há aqueles que julgam mal a obra do autor, mas há também aqueles que querem ver nela algum valor.
Os leitores, de modo geral, confiam na avaliação crítica que resulta dos discursos produzidos na escola, na universidade e na imprensa; entretanto, o público espera também que se diga por que este livro é bom e este outro é ruim. Será possível para as instituições julgarem o valor de uma obra sem limitarem-se às noções de gosto?
Por muito tempo, a ideia do bom e do belo como critérios absolutos para a valoração de uma obra artística funcionaram exclusivamente.

 
Por outro lado, houve, em vários momentos da história da literatura, a produção de obras em que o belo e o bom foram substituídos pelo horror. O Romantismo, por exemplo, quando passa a encenar a morte em todas as suas possibilidades, traz para a discussão do valor literário a questão do horror.Obras como Frankestein, de Mary Shelley, ou Drácula, de Bram Stocker, não podem ser julgadas pelo critério do bom e do belo. O Romantismo trouxe outros elementos para a análise do valor da obra literária e tornou mais problemático o julgamento crítico de tal obra.

O que é um clássico?

Para responder a esse questionamento, Compagnon (2003, p. 234) retoma um texto de Sainte-Beuve, “Qu ‘est-ce qu’un classique?” (O que é um clássico?), de 1850, em que se apresenta uma definição riquíssima que transcrevemos aqui:

Um verdadeiro clássico [...] é um autor que enriqueceu o espírito humano, que realmente aumentou seu tesouro, que lhe fez dar um passo a mais, que descobriu uma verdade moral não equívoca ou apreendeu alguma paixão eterna nesse coração em que tudo já parecia conhecido e explorado; que manifestou seu pensamento, sua observação e sua invenção, não importa de que forma, mas que é uma forma ampla e grande, fina e sensata, saudável e bela em si; que falou a todos num estilo próprio, mas que é também o de todos, num estilo novo sem neologismo, novo e antigo, facilmente contemporâneo de todas as idades.


Para Sainte-Beuve, o clássico transcende todas as tensões e todas as contradições. Seria uma obra absoluta, entre o individual e o universal, entre o atual e o eterno, entre o local e o global, entre a tradição e a originalidade, entre a forma e o conteúdo. Seria a obra perfeita, a dicção absoluta do ser. Tal proposição, embora belíssima, traz uma problemática explícita, pois, sendo assim, muitas obras que vemos circular com o rótulo de clássicas deveriam ser banidas imediatamente.
Já se viu que o termo Clássico se emprega o mais das vezes para obras que têm circulação garantida nas escolas, universidades e meios críticos reconhecidos. Essas instituições operam a um julgamento crítico que delega valor e prestígio às obras por meio de um complexo processo histórico e cultural.
 Para Compagnon (2003), a definição de clássico apresentada por Sainte-Beuve é romântica e anti-acadêmica. Para ele, a associação entre criação e tradição é a garantia mais imediata para que determinada obra ganhe status de clássica, da mesma forma que é muito perigoso tornar-se um clássico rápido demais. Daí a importância do processo histórico que consolida e avalia – pela ação das instituições autorizadas – o clássico.Embora possamos falar de certo relativismo no estabelecimento dos clássicos contemporâneos, é sempre bom lembrar que é preciso confiança no discurso elaborado e consolidado pelas instituições responsáveis por alguma estabilidade nesse campo, da mesma forma que é preciso trabalhar no sentido de garantir a confiabilidade dessas instituições.

Os Gêneros Literários
Os textos literários são divididos em gêneros, assuntos dos textos. Esses gêneros que dividem a literatura são chamados de gêneros literários. O conceito de gênero literário é um conjunto de obras que apresentam características semelhantes tanto na forma quanto no conteúdo.
Os gêneros literários, ainda, são subdivididos em três categorias: líricos, épicos e dramáticos.
GÊNERO LÍRICO: Vem da palavra lira; instrumento musical de cordas que acompanhava as cantigas, desde as gregas até as do final da Idade Média, quando as poesias eram feitas para serem cantadas.
Devido ao sentimentalismo (característica desse tipo de texto) ficaram conhecidas como líricas.
Predomínio da emoção: subjetivismo; valorização da figura do emissor (eu lírico); expressão do estado de alma.
Pertencem a este gênero: soneto, elegia, hino e ode.
GÊNERO ÉPICO: Conta-se uma história, por meio de uma voz narrativa.
Pressuposição:
a) foco narrativo: trata-se do enfoque dado pela voz
b) personagens: os participantes da história
c) tempo: período em que a história se desenrola: cronológico, psicológico.
d) espaço: ambientação onde as ações narrativas acontecem.
e) enredo: sequência de ações que compõem a história.

 GÊNERO DRAMÁTICO: Indica ação (igual drama), textos feitos para serem representados por atores que evidenciem as ações dos personagens.
Estruturas recorrentes: tragédia, comédia, tragicomédia, auto e farsa.
Auto: composição fortemente marcada pelo apelo religioso; o intuito é mobilizar a pessoa sobre os pecados mundânos; tentar corrigir os vícios e ao mesmo tempo valorizar os costumes.
Farsa: estrutura teatral cuja função é apontar, através da ironia, do sarcasmo e do humor, os vícios existentes no plano social; espécie a mobilização do ouvinte, pois ele deverá se sentir como objeto da encenação.
Conceituação e evolução histórica
A problemática dos gêneros, a mais antiga da teoria literária, também das mais complexas e controvertidas, empenha ainda hoje o interesse dos estudiosos, que perseveram na busca de uma conceituação. Entre divergências e oscilações, o assunto atravessa toda a história da literatura e da crítica, ora assumindo acomodações de fidelidade e preceitos estáticos, ora desencadeando inovações, com investidas aguerridas e alvoroçadas. O fato é que a questão permanece aberta, a aguçar nossa curiosidade num desafio milenar. Gênero dramático:

Fenômenos estilísticos
Maneira dramática
Ficou claro que, na obra lírica, a relação entre o autor e o mundo é de envolvimento a, na épica, de confronto, num aumento progressivo do distanciamento, que reclama a presença do narrador, na qualidade de mediador do relato.
Na obra dramática, o autor desaparece atrás do mundo criado, numa espécie de realidade independente, onde os acontecimentos se desenvolvem autonomamente, sem a interferência do narrador.
Assim se justifica a necessidade do palco, como representação do mundo, diante do qual o espectador assiste ao desenvolvimento da peça por intermédio das personagens.
 Para Aristóteles, o objeto da mímesis recai sempre sobre as ações das personagens, mas quanto à maneira da sua realização, destacam-se duas fundamentais, a narrativa, que estudamos, e a dramática que faz as próprias personagens aparecerem e agirem diante de nós. A ação se desenrola através da acontecimentos que revelam as personagens, situadas num determinado lugar e numa certa época. (...)
Concentração
A tensão dramática, dinamizada pelo alvo a alcançar, impele a ação e suprime todo excesso. Deste aspecto provém a concentração ou densidade, já defendida por Aristóteles, que atribuía ao mais concentrado um prazer maior do que aquilo que vem diluído.
Por se achar no final o objetivo da trama e por existir cada parte somente em função do todo, não se admite retardamento na ação nem desperdícios de pormenores. (...)
As unidades
O imperativo da concentração e do sentido global mobilizado em direção ao desfecho, se conexiona à unidade de ação, mais significativa na obra dramática que na épica. Sacrifica-se a unidade, caso se entrelacem muitas ações. Isto já era do conhecimento de Aristóteles, para quem a ação deve organizar-se una e inteira, com as partes de tal modo entrosadas que a simples supressão ou deslocamento de uma delas basta para transtornar ou mutilar a totalidade.
Os teóricos do Renascimento e do Classicismo conceberam a doutrina das três unidades - ação, tempo, lugar - se arregimentou entre os estatutos da administração criadora.
A unidade de ação, que condena num todo coeso a ação principal e as acessórias, acrescenta-se a unidade de lugar, numa imposição de concentrar toda a encenação às vezes numa única sala ou aposento, e a unidade de tempo, que se restringe no máximo a vinte e quatro horas e no mínimo à duração real do espetáculo. (...)
 
Diálogo
O diálogo é a forma natural, de as personagens desenvolverem a ação, emancipadas do narrador. O monólogo não chega a contradizer a situação dialógica, por constituir recurso para a personagem expressar os próprios pensamentos, indispensáveis ao decurso da trama. (...)
A ação, provinda do choque de interesses opostos, antes de chegar ao desfecho passa por momentos chamados nó, reconhecimento, peripécia, clímax.
Entendemos por o conjunto de interesses que destrói a situação inicial para encetar a ação. O nó de Romeu e Julieta é o encontro dos jovens e seu súbito amor, que entra em conflito com a posição dissidente das duas famílias.
A passagem da ignorância ao conhecimento denomina-se reconhecimento, que se realiza, por exemplo, quando Julieta vem informada de que Romeu assassinara a seu primo Tebaldo e fora banido de Verona.
Peripécia é a mudança da ação contrariamente ao que se esperava. Romeu se havia casado ocultamente com Julieta e aguardava a ocasião de tornar o fato conhecido, quando provocado por Tebaldo, mata-o e é obrigado a deixar sua esposa. Em toda peça contam-se vários reconhecimentos e peripécias.
O clímax aparece no ponto culminante do conflito, depois do qual a trama deve terminar, como, por exemplo, o suicídio de Romeu, ao supor Julieta morta, levando-a a idêntico fim.
Todos esses momentos se expressam pelo diálogo, no dinamismo da ação assestada sempre para o desenlace ou desfecho.

Referências 
COMPAGNON, Antoine. O Demônio da Teoria :literatura e senso comum. Tradução de: Cleonice Mourão e Consuelo Santiago. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.

SAINTE-BEUVE. Qu ‘est-ce qu’un classique? 1850. Causeries du Lundi Paris: Garnier, 1874-1876. 15V., t. III.

COSTA,Marta Morais da;OLIVEIRA,Silvana.Concepções, Estruturas e Fundamentos do Texto Literário.Editora IESDE,Curitiba,2010.


DOS GÊNEROS LITERÁRIOS










Nenhum comentário:

Postar um comentário