Literatura
e Crítica Literária
O valor
na literatura
Há uma
expectativa e uma esperança sempre presentes quando um leitor entra numa
livraria para comprar um livro ou mesmo quando abre um jornal para consultar a
lista dos mais vendidos. O leitor espera que o livro que ele vai escolher a
partir desses dois cenários a livraria e o jornal – sejam bons.
Ora, quem
dirá a ele qual o livro que deve ser escolhido? Os especialistas. No caso do
livro literário, espera-se que os especialistas da crítica literária sejam
capazes de dizer quais são os bons livros, ou seja, aqueles que merecem ser lidos.
A
discussão sobre o valor na literatura envolve, pelo menos, dois princípios: o
valor da literatura, de modo geral, e o valor da obra, de modo específico.
A crítica
literária e as outras instituições
Quando
nos referimos aos especialistas da área de literatura, estamos pensando em
professores e pesquisadores de literatura e também nos críticos literários.
Esses profissionais atuam, principalmente, em três instituições sociais que, a
rigor, definem e creditam o valor de uma obra literária: a escola, a universidade (ou academia) e a imprensa.
A escola
representa aqui a instituição responsável pela formação básica do cidadão,
desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. É na escola que a criança e o
jovem entendem o que é o livro e como ele
funciona socialmente; os livros que a escola acolhe em suas classes são
valorados a priori, ou seja, o livro que
chega à classe escolar carrega consigo um valor formativo; ele é, literalmente,
um clássico o livro das classes
escolares.
A
universidade (ou academia) representa o ambiente em que o conhecimento é
produzido e avaliado sem as determinações externas, sejam de ordem social ou
econômica. Embora não possamos dizer que as universidades são ilhas isoladas do
resto do mundo, é lá que o estudioso encontra o ambiente propício para produzir
conhecimento e valor protegido das imposições e interesses de outra ordem.
Dentro
das universidades se produz a avaliação teórica dos textos literários e,
simultaneamente, a sistematização daquilo que se produz em literatura. A
avaliação e a sistematização da literatura, produzidas dentro da universidade,
orientam a ação de professores e especialistas que atuam na escola. Assim é que
as duas instituições – escola e universidade – devem estar em constante diálogo
e mútua colaboração.
A
imprensa acolhe o discurso crítico sobre a literatura. As revistas, os jornais,
os programas de televisão e também a internet são suportes em que o discurso
crítico se apoia para chegar ao grande público. O processo para alcançar cada
um desses meios é bastante diverso; sabemos que, para escrever em uma revista
especializada em literatura, o crítico literário precisa ser reconhecido como
profissional, e em jornais de importante circulação se dá o mesmo. Já na
internet, qualquer um de nós pode postar a sua avaliação crítica de qualquer
obra sem nenhuma restrição. A diversidade dos meios em que a crítica literária
circula amplia seu alcance e seu poder de avaliação. Ao pensarmos em
determinado livro é comum que a base para o julgamento do seu valor seja a
opinião expressa de determinado crítico em uma revista, um jornal, programa de
televisão ou mesmo na internet
O julgamento crítico
Antoine
Compagnon (2003) afirma que o público espera que os profissionais da literatura
lhe digam quais são os bons e quais são os maus livros; que os julguem, separem
o joio do trigo, fixem o cânone.
Cânone
literário é o conjunto das grandes obras clássicas, aquelas cujo valor não pode
ser questionado, pois já está consolidado na cultura de determinada sociedade.
Um exemplo para a literatura brasileira é Machado de Assis; ele já pertence ao
cânone literário brasileiro, ou seja, o valor da sua obra não pode, ou pelo
menos não deve, ser questionado. O mesmo não acontece com a obra de um autor como
Paulo Coelho,cuja avaliação especializada ainda não se consolidou; há aqueles
que julgam mal a obra do autor, mas há também aqueles que querem ver nela algum
valor.
Os
leitores, de modo geral, confiam na avaliação crítica que resulta dos discursos
produzidos na escola, na universidade e na imprensa; entretanto, o público
espera também que se diga por que este livro é bom e este outro é ruim. Será
possível para as instituições julgarem o valor de uma obra sem limitarem-se às
noções de gosto?
Por muito
tempo, a ideia do bom e do belo como critérios absolutos para a valoração de
uma obra artística funcionaram exclusivamente.
Por outro
lado, houve, em vários momentos da história da literatura, a produção de obras
em que o belo e o bom foram substituídos pelo horror. O Romantismo, por
exemplo, quando passa a encenar a morte em todas as suas possibilidades, traz
para a discussão do valor literário a questão do horror.Obras como Frankestein,
de Mary Shelley, ou Drácula, de Bram Stocker, não podem ser julgadas pelo
critério do bom e do belo. O Romantismo trouxe outros elementos para a análise
do valor da obra literária e tornou mais problemático o julgamento crítico de
tal obra.
O que é um clássico?
Para responder a esse
questionamento, Compagnon (2003, p. 234) retoma um texto de Sainte-Beuve, “Qu
‘est-ce qu’un classique?” (O que é um clássico?), de 1850, em que se apresenta
uma definição riquíssima que transcrevemos aqui:
Um verdadeiro clássico [...] é um
autor que enriqueceu o espírito humano, que realmente aumentou seu tesouro, que
lhe fez dar um passo a mais, que descobriu uma verdade moral não equívoca ou
apreendeu alguma paixão eterna nesse coração em que tudo já parecia conhecido e
explorado; que manifestou seu pensamento, sua observação e sua invenção, não
importa de que forma, mas que é uma forma ampla e grande, fina e sensata,
saudável e bela em si; que falou a todos num estilo próprio, mas que é também o
de todos, num estilo novo sem neologismo, novo e antigo, facilmente
contemporâneo de todas as idades.
Para
Sainte-Beuve, o clássico transcende todas as tensões e todas as contradições.
Seria uma obra absoluta, entre o individual e o universal, entre o atual e o
eterno, entre o local e o global, entre a tradição e a originalidade, entre a
forma e o conteúdo. Seria a obra perfeita, a dicção absoluta do ser. Tal proposição,
embora belíssima, traz uma problemática explícita, pois, sendo assim, muitas
obras que vemos circular com o rótulo de clássicas deveriam ser banidas
imediatamente.
Já se viu
que o termo Clássico se emprega o mais das vezes para obras que têm circulação
garantida nas escolas, universidades e meios críticos reconhecidos. Essas
instituições operam a um julgamento crítico que delega valor e prestígio às
obras por meio de um complexo processo histórico e cultural.
Para
Compagnon (2003), a definição de clássico apresentada por Sainte-Beuve é
romântica e anti-acadêmica. Para ele, a associação entre criação e tradição é a
garantia mais imediata para que determinada obra ganhe status de clássica, da
mesma forma que é muito perigoso tornar-se um clássico rápido demais. Daí a
importância do processo histórico que consolida e avalia – pela ação das
instituições autorizadas – o clássico.Embora possamos falar de certo
relativismo no estabelecimento dos clássicos contemporâneos, é sempre bom
lembrar que é preciso confiança no discurso elaborado e consolidado pelas
instituições responsáveis por alguma estabilidade nesse campo, da mesma forma que
é preciso trabalhar no sentido de garantir a confiabilidade dessas instituições.
Os Gêneros
Literários
Os textos literários são divididos em gêneros,
assuntos dos textos. Esses gêneros que dividem a literatura são chamados de
gêneros literários. O conceito de gênero literário é um conjunto de obras que
apresentam características semelhantes tanto na forma quanto no conteúdo.
Os gêneros literários, ainda, são subdivididos em
três categorias: líricos, épicos e dramáticos.
GÊNERO LÍRICO: Vem da palavra lira; instrumento musical
de cordas que acompanhava as cantigas, desde as gregas até as do final da Idade
Média, quando as poesias eram feitas para serem cantadas.
Devido ao sentimentalismo (característica desse
tipo de texto) ficaram conhecidas como líricas.
Predomínio da emoção: subjetivismo; valorização da
figura do emissor (eu lírico); expressão do estado de alma.
Pertencem a este gênero: soneto, elegia, hino e
ode.
GÊNERO ÉPICO: Conta-se uma história, por meio de
uma voz narrativa.
Pressuposição:
a) foco narrativo: trata-se do enfoque dado pela voz
b) personagens: os participantes da história
c) tempo: período em que a história se desenrola: cronológico, psicológico.
d) espaço: ambientação onde as ações narrativas acontecem.
e) enredo: sequência de ações que compõem a história.
a) foco narrativo: trata-se do enfoque dado pela voz
b) personagens: os participantes da história
c) tempo: período em que a história se desenrola: cronológico, psicológico.
d) espaço: ambientação onde as ações narrativas acontecem.
e) enredo: sequência de ações que compõem a história.
GÊNERO DRAMÁTICO: Indica ação (igual drama), textos
feitos para serem representados por atores que evidenciem as ações dos
personagens.
Estruturas recorrentes: tragédia, comédia,
tragicomédia, auto e farsa.
Auto: composição fortemente marcada pelo apelo
religioso; o intuito é mobilizar a pessoa sobre os pecados mundânos; tentar
corrigir os vícios e ao mesmo tempo valorizar os costumes.
Farsa: estrutura teatral cuja função é apontar,
através da ironia, do sarcasmo e do humor, os vícios existentes no plano
social; espécie a mobilização do ouvinte, pois ele deverá se sentir como objeto
da encenação.
Conceituação e evolução histórica
A
problemática dos gêneros, a mais antiga da teoria literária, também das mais
complexas e controvertidas, empenha ainda hoje o interesse dos estudiosos, que
perseveram na busca de uma conceituação. Entre divergências e oscilações, o
assunto atravessa toda a história da literatura e da crítica, ora assumindo
acomodações de fidelidade e preceitos estáticos, ora desencadeando inovações,
com investidas aguerridas e alvoroçadas. O fato é que a questão permanece
aberta, a aguçar nossa curiosidade num desafio milenar. Gênero
dramático:
Fenômenos estilísticos
Maneira dramática
Ficou
claro que, na obra lírica, a relação entre o autor e o mundo é de envolvimento
a, na épica, de confronto, num aumento progressivo do distanciamento, que
reclama a presença do narrador, na qualidade de mediador do relato.
Na
obra dramática, o autor desaparece atrás do mundo criado, numa espécie de
realidade independente, onde os acontecimentos se desenvolvem autonomamente,
sem a interferência do narrador.
Assim
se justifica a necessidade do palco, como representação do mundo, diante do
qual o espectador assiste
ao desenvolvimento da peça por intermédio das personagens.
Para
Aristóteles, o objeto da mímesis recai sempre sobre as ações das
personagens, mas quanto à maneira da sua realização, destacam-se duas
fundamentais, a narrativa, que estudamos, e a dramática que faz as próprias
personagens aparecerem e agirem diante de nós. A ação se desenrola através
da acontecimentos que revelam as personagens, situadas num determinado lugar e
numa certa época. (...)
Concentração
A tensão
dramática, dinamizada pelo alvo a alcançar, impele a ação e suprime todo
excesso. Deste aspecto provém a concentração ou densidade, já defendida por
Aristóteles, que atribuía ao mais concentrado um prazer maior do que aquilo que
vem diluído.
Por
se achar no final o objetivo da trama e por existir cada parte somente em
função do todo, não se admite retardamento na ação nem desperdícios de
pormenores. (...)
As
unidades
O
imperativo da concentração e do sentido global mobilizado em direção ao
desfecho, se conexiona à unidade de ação, mais significativa na obra dramática
que na épica. Sacrifica-se a unidade, caso se entrelacem muitas ações. Isto já
era do conhecimento de Aristóteles, para quem a ação deve organizar-se una e
inteira, com as partes de tal modo entrosadas que a simples supressão ou
deslocamento de uma delas basta para transtornar ou mutilar a totalidade.
Os
teóricos do Renascimento e do Classicismo conceberam a doutrina das três
unidades - ação, tempo, lugar - se arregimentou entre os estatutos da
administração criadora.
A
unidade de ação, que condena num todo coeso a ação principal e as acessórias,
acrescenta-se a unidade de lugar, numa imposição de concentrar toda a encenação
às vezes numa única sala ou aposento, e a unidade de tempo, que se restringe no
máximo a vinte e quatro horas e no mínimo à duração real do espetáculo. (...)
Diálogo
O diálogo é a forma natural, de as
personagens desenvolverem a ação, emancipadas do narrador. O monólogo não chega
a contradizer a situação dialógica, por constituir recurso para a personagem
expressar os próprios pensamentos, indispensáveis ao decurso da trama. (...)
A
ação, provinda do choque de interesses opostos, antes de chegar ao desfecho
passa por momentos chamados nó, reconhecimento, peripécia, clímax.
Entendemos
por nó o conjunto de interesses que destrói a situação inicial para
encetar a ação. O nó de Romeu e Julieta é o encontro dos jovens e seu
súbito amor, que entra em conflito com a posição dissidente das duas famílias.
A
passagem da ignorância ao conhecimento denomina-se reconhecimento, que
se realiza, por exemplo, quando Julieta vem informada de que Romeu assassinara
a seu primo Tebaldo e fora banido de Verona.
Peripécia é a
mudança da ação contrariamente ao que se esperava. Romeu se havia casado
ocultamente com Julieta e aguardava a ocasião de tornar o fato conhecido,
quando provocado por Tebaldo, mata-o e é obrigado a deixar sua esposa. Em toda
peça contam-se vários reconhecimentos e peripécias.
O clímax
aparece no ponto culminante do conflito, depois do qual a trama deve terminar,
como, por exemplo, o suicídio de Romeu, ao supor Julieta morta, levando-a a
idêntico fim.
Todos
esses momentos se expressam pelo diálogo, no dinamismo da ação assestada sempre
para o desenlace ou desfecho.
Referências
COMPAGNON,
Antoine. O Demônio da Teoria :literatura e senso comum. Tradução de: Cleonice
Mourão e Consuelo Santiago. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
SAINTE-BEUVE. Qu ‘est-ce qu’un classique? 1850. Causeries du Lundi Paris: Garnier,
1874-1876. 15V., t. III.
COSTA,Marta Morais
da;OLIVEIRA,Silvana.Concepções, Estruturas e Fundamentos do Texto
Literário.Editora IESDE,Curitiba,2010.
DOS GÊNEROS LITERÁRIOS
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