sábado, 8 de março de 2014

Preconceito Linguístico



Há alguns anos li o livro "Preconceito Linguístico - o que é, como se faz" de Marcos Bagno e decidi fazer uma espécie de fichamento do mesmo.

É fato que existe preconceito linguístico, mas o que seria este preconceito? Como ele ocorre? Neste post, através deste fichamento, estas questões serão exemplificadas e explicadas.

 

Preconceito Linguístico - o que é, como se faz - Marcos Bagno

Editora Loyola – ISBN: 85-15-01889-6 – 24 ed.

O preconceito linguístico está ligado à confusão entre a língua e a gramática normativa, que é autoritária e repressiva. Enquanto a língua se modifica, a gramática normativa se mantém intacta.

A mitologia do preconceito linguístico
Embora as pessoas tenham tentado lutar contra o preconceito, o preconceito linguístico não está nesta luta. Esse preconceito é alimentado diariamente através da mídia e dos livros de gramática normativa, que tentam ensinar o que é ‘certo’ e o que é ‘errado’.

Mito 1:
“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”

Quando a diversidade do português falado no Brasil não é reconhecida, existe um grande prejuízo ao tentar impor a norma linguística como se ela fosse a língua falada por todos. Não são apenas os fatores regionais que fazem com que a língua seja diversa, mas o grau de escolaridade e econômico também.
Pela escassez da educação em nosso país, muitos não têm acesso a norma culta, que além de sofrerem chacotas e preconceitos poderiam ser considerados como sem-língua se acreditarmos no mito da língua única.
É preciso que esse mito seja abandonado e que a existência da variedade linguística seja reconhecida. Embora desde 1998 essa diversidade seja reconhecida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, por enquanto, nada mudou.

Mito 2:
“Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem português”

Sentimos que somos uma colônia dependente de Portugal e somos inferiores. Acreditam que pelo Brasil ser uma mistura de raças, somos inferiores e por isso, não falamos uma língua pura. O português do Brasil é considerado corrupto, impuro, que não sabe usar a língua corretamente.
A gramática do português do Brasil e do de Portugal são muitas distintas e só usamos o termo ‘português’ por comodidade e razão histórica. Existe, hoje em dia, o termo ‘português brasileiro’.
A compreensão do português de ambos países é quase completa apenas na língua escrita formal. Esta norma é ensinada nas escolas, porém não é usada no dia-a-dia.

Mito 3:
“Português é muito difícil”

Achamos o português difícil, pois o que aprendemos na escola corresponde as regras gramaticais de Portugal. Toda língua é fácil se somos nativos dela e saber um idioma é fazer seu uso intuitivo. Não é a língua que é difícil e sim a gramática normativa.

 Mito 4:
“As pessoas sem instrução falam tudo errado”

 O que está em jogo não é a língua, mas quem fala e onde essa pessoa vive. Por exemplo, os nordestinos são de uma área subdesenvolvida, com isso, os nascidos lá também tem que ser.

Mito 5:
“O lugar onde melhor se fala português no Brasil é no Maranhão”

O Maranhão era subserviente a Portugal e o povo de lá utiliza o “tu”, por isso tal mito. O que tem de ser levado em consideração é a classe social, grau de instrução, sexo e faixa etária.

Mito 6:
“O certo é falar assim porque se escreve assim”

Existe a variação linguística que faz com que as pessoas falem de formas diferentes. Não existe nada errado nisso, mas temos que saber que só existe uma forma correta de escrever. A língua falada é natural, enquanto a escrita é artificial e precisa de treinamento.

Mito 7:
“É preciso saber gramática para falar e escrever bem”

A gramática foi um livro para fixação das manifestações linguísticas usadas pelos escritores que viraram ‘regras’ e ‘padrões’. Com isso, a gramática virou um objeto de poder e de controle. A existência do padrão linguístico uniforme é usado por seres humanos.

Mito 8:
“O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”

Não é ensinando/aprendendo a norma culta que se sobe na vida. Um fazendeiro, com ensino básico, que possui vários gados e terrenos tem mais dinheiro do que um professor de português.

Círculo Vicioso do preconceito linguístico:


·         Ensino tradicional;
·         Gramática tradicional;
·         Livros didáticos;
·         Comandos paragramaticais -> livros, manuais de redação, etc.

Vários autores cometem o preconceito linguístico, chamam os brasileiros de caipiras por não saberem usar o português de Portugal.

A desconstrução do preconceito linguístico:


v  Analfabetismo;
v  Analfabetos funcionais – freqüentaram a escola por tempo insuficiente;
v  Por razões históricas e culturais os alfabetizados não cultivam e não desenvolvem suas habilidades lingüísticas no nível da norma culta;
v  A norma culta não corresponde a língua usada pelas pessoas cultas.

Devemos parar de pensar que não sabemos o português. A língua é viva, ela muda.

O que é ensinar português?
É fazer com que os alunos saibam utilizar a língua e não se tornar especialistas gramáticos.

O que é erro?
Erro de português não existe, o que existe são erros de ortografia.

Então vale tudo?
Não. Temos que saber utilizar a língua, selecionar o que é adequado ao momento, como gírias, palavrões, etc.

A paranoia ortográfica
Preocupam-se mais com os erros do que com o conteúdo.
A ortografia não faz parte da gramática da língua, isto é, do seu conhecimento.

Subvertendo o preconceito linguístico


Aos professores:
·         Formando-nos e informando-nos;
·         Temos que ensinar o que é cobrado pela sociedade, mas podemos fazê-lo criticando;
·         Diante das cobranças, mostrar que todas as ciências evoluem, assim como a ciência da linguagem;
·         Dez cisões:
1.       O nativo SABE usar a língua;
2.       Não existe erro de português e sim diferenças de uso;
3.       Não confundir erro de português com erro de ortografia;
4.       Tudo que a Gramática Tradicional chama de erro é um fenômeno que tem explicação científica demonstrável;
5.       Toda língua muda e varia;
6.       A língua portuguesa VAI, segue seu rumo;
7.       Respeitar a variedade linguística;
8.       Nós somos a língua que falamos
9.       Professor de português é professor de TUDO por tudo está na língua e a língua está em tudo;
10.   Ensinar bem é ensinar para o bem.

Vale ressaltar que existe preconceito contra a linguística e contra os linguistas. 


Escrito por: Mirian Regina Mendes

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