segunda-feira, 3 de março de 2014

O Estruturalismo de Saussure



INTRODUÇÃO

Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857) foi um renomado linguista e filósofo suíço, cujo estudo linguistico serviu de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX, que é o tema deste trabalho.
O estruturalismo de Saussure foi assim chamado em uma fase “pós-Saussureana” e ocupou-se do estudo sincrônico da língua, isto é, o estudo da língua em um determinado período histórico.
O estudo linguístico de Saussure tinha como base a langue, ou seja, o estudo da língua no meio social, coletivo, a soma do conhecimento linguistico. Isso deu um novo ar a linguística, que até então se preocupava com as questões externas da língua. A partir de então, a linguística passou a se preocupar com os fatos internos da língua.
Falecido em 22 de fevereiro de 1913 na cidade de Morges, na Suíça, Saussure teve um livro publicado intitulado Curso de Linguistica Geral, resultado de anotações de seus alunos no decorrer de três cursos de linguistica ministrados pelo mesmo nos anos de 1907, 1908 e 1910 que teve no total vinte e seis alunos (seis em 1907, oito em 1908 e doze em 1910).

 POR QUE SIGNO E NÃO SÍMBOLO?

Definimos por signo linguistico a combinação de conceito (significado) e de uma imagem acústica (significante). A imagem acústica não é material, e sim mental, pois uma pessoa pode cantar ou falar consigo mesmo sem mover os lábios. O signo existe na psico-física.
Tomemos como exemplo a palavra gato. Quando ouvimos esta palavra construímos uma imagem acústica de gato, ou seja, uma forma gráfica constituída a partir do som, seguido de um conceito, isto é, vem a nossa mente a imagem de um gato, um animal peludo, de quatro patas.
Diferentemente do signo, o símbolo nos lembra determinada realidade, porém não em sua totalidade, mas parte dela. Por exemplo, ao vermos a Estrela de Davi, lembramos dos Judeus. Uma cruz nos remete ao Cristianismo, um hijab (véu usado pelas mulheres muçulmanas) nos remete ao Islamismo, etc.
Sendo a língua um código, os signos linguísticos são responsáveis pela representação das idéias, que por meio da fala ou da escrita, nos faz associar o signo a determinada idéia.

A NATUREZA DO SIGNO

A natureza do signo linguístico reside na duplicidade. “O signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces (...)” (SAUSSURE, 1995:80). Tal “entidade psíquica” é formada pelo conceito (significado) e pela imagem acústica (significante). Estes elementos estão relacionados entre si, porém, não da forma baseada na natureza das coisas, mas sim pelo fato de comporem o signo. Isto é, a relação entre o significado e o significante não tem ligação com a realidade. Uma árvore poderia se chamar sapato. Só se chama árvore porque resolveram fixar tal significante ao objeto.

A ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO

O signo linguístico é arbitrário por não existir vínculo natural entre o signo e o objeto. Por exemplo, “lua” em inglês é “moon”, enquanto no espanhol é “luna”. Podemos dizer ainda que o signo é arbitrário por ser convencional, havendo mudanças no mesmo em outra língua. Com isso, Saussure distinguiu claramente signo de símbolo: o símbolo não é arbitrário, ele tem um vínculo com o significado; a cruz evoca muita coisa para um cristão e não pode ser substituída por uma cadeira, por exemplo.
É preciso ficar claro, porém, que o significado não depende da escolha de quem está falando e sim da sociedade. Um indivíduo não pode simplesmente resolver chamar uma televisão de estante, pois não haveria coerência alguma. Tal mudança e/ou criação depende de um grupo linguístico.
Contudo, Saussure aponta duas objeções que poderiam ser feitas:
Onomatopéias: alguns podem pensar que as onomatopéias não são arbitrárias, entretanto, é preciso ter em mente que além de pouco numerosas, sua escolha é arbitrária, pois são uma imitação do som realizado. Por exemplo, um miado em português é reproduzido como “miau” e em inglês como “meow”.
Exclamações: equivalentes as onomatopéias, as exclamações também variam de língua para língua. Tomemos como exemplo, novamente, o português e o inglês. Ao exclamar uma dor em português temos “ai!”, enquanto no inglês temos “ouch!”.
Não existe uma base para discussão do signo, ou seja, não tem como discutir porquê uma cadeira é chamada de “cadeira”, bem como não existe motivo para preferir blue à azul. “(...) a própria arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo de toda tentativa que vise modificá-la.” (SAUSSURE, 1995:87)
Analisando os signos, Saussure concluiu que os mesmos são infinitos e inumeráveis. Isso se dá pelas diversas combinações possíveis de letras disponíveis dentro da língua. “(...) os signos linguísticos são inumeráveis” (SAUSSURE, 1995:87).
É praticamente impossível modificar a estrutura de uma língua por esta ser “um mecanismo complexo” (SAUSSURE, 1995:87). A língua é uma herança que foi construída com o passar dos anos formando um elo com a sociedade.
A língua é de uso diário e total, diferentemente do código Morse, por exemplo. Tal código só é conhecido por usuários do mesmo. Suponhamos que, dentro de uma determinada sociedade, todos falam a mesma língua, porém, apenas 5% dela é conhecedora do código Morse. Isso faz com que a língua sofra mudanças constantes, diferentemente do código Morse. “(...) A língua (...) é, a cada momento, tarefa de toda a gente (...) não se pode estabelecer comparação alguma entre ela e as outras instituições.” (SAUSSURE, 1995:88)

ARBITRARIEDADE ABSOLUTA E ARBITRARIEDADE RELATIVA

Saussure aponta a existência de um arbitrário absoluto e de um arbitrário relativo. “Apenas uma parte dos signos é absolutamente arbitrária” (SAUSSURE, 1995:152).
Um exemplo de arbitrariedade absoluta (signo imotivado) é livro, enquanto livraria é um caso de arbitrariedade relativa (signo motivado) por ser uma derivação da palavra livro.
Em livraria, o conhecimento das duas partes que compõe a palavra, ou seja, livr+aria é possível chegarmos a livro, por isso o signo é motivado, enquanto livro é a constituição total do signo.
No livro Curso de Línguistica Geral, Saussure aponta como exemplos os números: “Vinte é imotivado, mas dezenove não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos quais se compõe e outros que lhe são associados, por exemplo, dez, nove.” (1995:152).

LINEARIDADE DO SIGNIFICANTE
O significante ou a imagem acústica está presente no caráter da expressão, ou seja, da fala. Para construirmos uma frase no plano oral, selecionamos alguns significantes que façam sentido dentro do contexto da mensagem que pretendemos emitir e tais significantes são apresentados em ordem linear. Temos como exemplo a frase de Charles Schulz: “A recompensa está no fazer”. Se tentarmos expressar essa frase da seguinte maneira: “Recompensa a fazer está no”, não haveria sentido algum. Por isso, o significante é linear, para que a frase tenha coerência e seja inteligível.

AS DICOTOMIAS DE SAUSSURE
Ao contrário de outras ciências, a linguística trabalha com o ponto de vista para a criação do objeto.  Saussure definiu um novo objeto de estudos para a lingüística, as dicotomias, que são apresentadas a seguir:

LÍNGUA X FALA
Também pode ser chamada de Langue x Parole. O modo como a langue a parole se relacionam constituem a Linguagem.
Para Saussure, a língua é social, é “a parte social da linguagem (...) é uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (1995:22). Já a fala, é individual, é a expressão da língua de maneira idiossincrática e momentânea, de acordo com a natureza do indivíduo que discursa.
O mestre genebriano define a língua como parte social da linguagem e a fala como parte individual desta.
O objeto de estudo de Ferdinand de Saussure é unicamente a fala.
  
SIGNIFICANTE X SIGNIFICADO
 Uma das dicotomias mais importantes de Saussure, explica que o nome dado a um objeto não é o objeto em si, mas sim, a união do significante e do significado. O conceito, ou seja, o significado é universal, enquanto a imagem acústica, isto é, o significante é variável. Se pegarmos um gato, o animal peludo de quatro patas e mostrarmos a um inglês e a um brasileiro, ambos reconhecem que gato é “gênero de mamífero da ordem dos carnívoros, família dos felídeos, que compreende muitas espécies, umas domésticas e outras selvagens.” (Dicionário online WEB). O significado é o mesmo para ambos, porém se perguntarmos qual o gênero do animal, o inglês responderia cat e o brasileiro gato, ou seja, o significante varia.

DIACRONIA X SINCRONIA
 A diacronia é o estudo de uma língua através do tempo, comparando as mudanças na língua entre dois ou mais momentos históricos. Tal dicotomia se ocupava em saber o motivo das mudanças ao decorrer do tempo, porquê “vosmicê” se transformou em “você”. A diacronia era usada no Comparativismo, para que pudessem encontrar a língua-mãe, a língua que deu origem a todas as outras.
Já a sincronia, é o estudo de um determinado estado de uma língua em um momento específico no tempo.
“É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito ás evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução”. (SAUSSURE, 1995:96)

SINTAGMA X PARADIGMA
 O sintagma é a combinação de duas ou mais unidades: “re-união”, “vários livros”, “estudar linguística na universidade”. As relações sintagmáticas ocorrem quando existem dois ou mais termos presentes, como observado nos exemplos acima. A combinação sintagmática pode se dar nos níveis fonológicos (ca-ma), morfológicos (menin-a) e sintáticos (um lindo dia).
O paradigma é a associação das palavras que tem algo em comum, mas realizada na base mental, em termos ausentes. Para tornar a relação paradigmática ou associativa mais clara, tomemos o seguinte exemplo: a palavra aprender. Tal palavra faz surgir diversas outras derivadas dela, como aprendizado, aprendendo, aprendiz, todas no plano mental.

CONCLUSÃO
 A partir desse estudo podemos entender a base do Estruturalismo de Ferdinand de Saussure, que se formou no início do século XX.
Como empirista, ele acreditava que a língua está na experiência social e não no indivíduo, ou seja, aprendemos as regras combinatórias com a sociedade em que vivemos. Seu objetivo como linguista era compreender como essas regras eram formadas, como o falante as adquiriam e como as operavam.
Sua teoria distingue fala e língua, sincronia e diacronia, significado e significante, sintagma e paradigma e prioriza o estudo da língua. Descreve ainda o signo e sua arbitrariedade, sua natureza, distingue o signo do símbolo e exemplifica a linearidade do significante.
Sua visão de linguagem contribuiu e deu novos rumos para o estudo da Linguistica e seu conteúdo ainda é alvo de críticas e reflexões.

 BIBLIOGRAFIA



SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995.

MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

WEB, Dicionário. Disponível em: http://www.dicionarioweb.com.br/gato.html> Acesso em 02 de abr. 2010.

EDUCAÇÃO, UOL, Biografia de Saussure. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u267.jhtm> Acesso em 02 de abr. 2010.

SILVA, Antônio Carlos, As teorias do signo e as significações linguísticas. Disponível em: http://www.partes.com.br/ed39/teoriasignosreflexaoed39.htm> Acesso em 02 de abr. 2010.

Escrito e pesquisado por: Mirian Regina Mendes

Nenhum comentário:

Postar um comentário