Há alguns anos li o livro "Preconceito Linguístico - o que é, como se faz" de Marcos Bagno e decidi fazer uma espécie de fichamento do mesmo.
É fato que existe preconceito linguístico, mas o que seria este preconceito? Como ele ocorre? Neste post, através deste fichamento, estas questões serão exemplificadas e explicadas.
Preconceito Linguístico - o que é, como se faz - Marcos Bagno
Editora Loyola – ISBN:
85-15-01889-6 – 24 ed.
O
preconceito linguístico está ligado à confusão entre a língua e a gramática
normativa, que é autoritária e repressiva. Enquanto a língua se modifica, a
gramática normativa se mantém intacta.
A mitologia do
preconceito linguístico
Embora as
pessoas tenham tentado lutar contra o preconceito, o preconceito linguístico
não está nesta luta. Esse preconceito é alimentado diariamente através da mídia
e dos livros de gramática normativa, que tentam ensinar o que é ‘certo’ e o que
é ‘errado’.
Mito 1:
“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma
unidade surpreendente”
Quando a
diversidade do português falado no Brasil não é reconhecida, existe um grande
prejuízo ao tentar impor a norma linguística como se ela fosse a língua falada
por todos. Não são apenas os fatores regionais que fazem com que a língua seja
diversa, mas o grau de escolaridade e econômico também.
Pela
escassez da educação em nosso país, muitos não têm acesso a norma culta, que
além de sofrerem chacotas e preconceitos poderiam ser considerados como
sem-língua se acreditarmos no mito da língua única.
É preciso
que esse mito seja abandonado e que a existência da variedade linguística seja
reconhecida. Embora desde 1998 essa diversidade seja reconhecida pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais, por enquanto, nada mudou.
Mito 2:
“Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala
bem português”
Sentimos
que somos uma colônia dependente de Portugal e somos inferiores. Acreditam que
pelo Brasil ser uma mistura de raças, somos inferiores e por isso, não falamos
uma língua pura. O português do Brasil é considerado corrupto, impuro, que não
sabe usar a língua corretamente.
A
gramática do português do Brasil e do de Portugal são muitas distintas e só
usamos o termo ‘português’ por comodidade e razão histórica. Existe, hoje em
dia, o termo ‘português brasileiro’.
A
compreensão do português de ambos países é quase completa apenas na língua escrita
formal. Esta norma é ensinada nas escolas, porém não é usada no dia-a-dia.
Mito 3:
“Português é muito difícil”
Achamos o
português difícil, pois o que aprendemos na escola corresponde as regras
gramaticais de Portugal. Toda língua é fácil se somos nativos dela e saber um
idioma é fazer seu uso intuitivo. Não é a língua que é difícil e sim a
gramática normativa.
Mito 4:
“As pessoas sem instrução falam tudo errado”
O que está
em jogo não é a língua, mas quem fala e onde essa pessoa vive. Por exemplo, os
nordestinos são de uma área subdesenvolvida, com isso, os nascidos lá também
tem que ser.
Mito 5:
“O lugar onde melhor se fala português no Brasil é no
Maranhão”
O Maranhão
era subserviente a Portugal e o povo de lá utiliza o “tu”, por isso tal mito. O
que tem de ser levado em consideração é a classe social, grau de instrução,
sexo e faixa etária.
Mito 6:
“O certo é falar assim porque se escreve assim”
Existe a
variação linguística que faz com que as pessoas falem de formas diferentes. Não
existe nada errado nisso, mas temos que saber que só existe uma forma correta
de escrever. A língua falada é natural, enquanto a escrita é artificial e
precisa de treinamento.
Mito 7:
“É preciso saber gramática para falar e escrever bem”
A
gramática foi um livro para fixação das manifestações linguísticas usadas pelos
escritores que viraram ‘regras’ e ‘padrões’. Com isso, a gramática virou um
objeto de poder e de controle. A existência do padrão linguístico uniforme é
usado por seres humanos.
Mito 8:
“O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão
social”
Não é
ensinando/aprendendo a norma culta que se sobe na vida. Um fazendeiro, com
ensino básico, que possui vários gados e terrenos tem mais dinheiro do que um
professor de português.
Círculo Vicioso do preconceito linguístico:
·
Ensino tradicional;
·
Gramática tradicional;
·
Livros didáticos;
·
Comandos paragramaticais -> livros, manuais
de redação, etc.
Vários
autores cometem o preconceito linguístico, chamam os brasileiros de caipiras
por não saberem usar o português de Portugal.
A desconstrução do preconceito linguístico:
v Analfabetismo;
v Analfabetos
funcionais – freqüentaram a escola por tempo insuficiente;
v Por
razões históricas e culturais os alfabetizados não cultivam e não desenvolvem
suas habilidades lingüísticas no nível da norma culta;
v A
norma culta não corresponde a língua usada pelas pessoas cultas.
Devemos
parar de pensar que não sabemos o português. A língua é viva, ela muda.
O que é ensinar português?
É fazer
com que os alunos saibam utilizar a língua e não se tornar especialistas
gramáticos.
O que é erro?
Erro de
português não existe, o que existe são erros de ortografia.
Então vale tudo?
Não. Temos
que saber utilizar a língua, selecionar o que é adequado ao momento, como
gírias, palavrões, etc.
A paranoia ortográfica
Preocupam-se
mais com os erros do que com o conteúdo.
A
ortografia não faz parte da gramática da língua, isto é, do seu conhecimento.
Subvertendo o preconceito linguístico
Aos professores:
·
Formando-nos e informando-nos;
·
Temos que ensinar o que é cobrado pela
sociedade, mas podemos fazê-lo criticando;
·
Diante das cobranças, mostrar que todas as
ciências evoluem, assim como a ciência da linguagem;
·
Dez cisões:
1. O
nativo SABE usar a língua;
2. Não
existe erro de português e sim diferenças de uso;
3. Não
confundir erro de português com erro de ortografia;
4. Tudo
que a Gramática Tradicional chama de erro é um fenômeno que tem explicação
científica demonstrável;
5. Toda
língua muda e varia;
6. A
língua portuguesa VAI, segue seu rumo;
7. Respeitar
a variedade linguística;
8. Nós
somos a língua que falamos
9. Professor
de português é professor de TUDO por tudo está na língua e a língua está em
tudo;
10. Ensinar
bem é ensinar para o bem.
Vale
ressaltar que existe preconceito contra a linguística e contra os linguistas.
Escrito por: Mirian Regina Mendes