INTRODUÇÃO
Ferdinand de Saussure
(Genebra, 26 de novembro de 1857) foi um renomado linguista e filósofo suíço,
cujo estudo linguistico serviu de base para o desenvolvimento do estruturalismo
no século XX, que é o tema deste trabalho.
O estruturalismo de
Saussure foi assim chamado em uma fase “pós-Saussureana” e ocupou-se do estudo
sincrônico da língua, isto é, o estudo da língua em um determinado período
histórico.
O estudo linguístico de
Saussure tinha como base a langue, ou
seja, o estudo da língua no meio social, coletivo, a soma do conhecimento
linguistico. Isso deu um novo ar a linguística, que até então se preocupava com
as questões externas da língua. A partir de então, a linguística passou a se
preocupar com os fatos internos da língua.
Falecido em 22 de
fevereiro de 1913 na cidade de Morges, na Suíça, Saussure teve um livro
publicado intitulado Curso de Linguistica Geral,
resultado de anotações de seus alunos no decorrer de três cursos de linguistica
ministrados pelo mesmo nos anos de 1907, 1908 e 1910 que teve no total vinte e
seis alunos (seis em 1907, oito em 1908 e doze em 1910).
POR
QUE SIGNO E NÃO SÍMBOLO?
Definimos por signo linguistico
a combinação de conceito (significado) e
de uma imagem acústica (significante). A
imagem acústica não é material, e sim mental, pois uma pessoa pode cantar ou
falar consigo mesmo sem mover os lábios. O signo existe na psico-física.
Tomemos como exemplo a
palavra gato. Quando ouvimos esta
palavra construímos uma imagem acústica de gato,
ou seja, uma forma gráfica constituída a partir do som, seguido de um conceito,
isto é, vem a nossa mente a imagem de um gato, um animal peludo, de quatro
patas.
Diferentemente do signo, o
símbolo nos lembra determinada realidade, porém não em sua totalidade, mas parte
dela. Por exemplo, ao vermos a Estrela de Davi, lembramos dos Judeus. Uma cruz
nos remete ao Cristianismo, um hijab (véu usado pelas mulheres muçulmanas) nos
remete ao Islamismo, etc.
Sendo a língua um código,
os signos linguísticos são responsáveis pela representação das idéias, que por
meio da fala ou da escrita, nos faz associar o signo a determinada idéia.
A
NATUREZA DO SIGNO
A natureza do signo
linguístico reside na duplicidade. “O signo linguístico é, pois, uma entidade
psíquica de duas faces (...)” (SAUSSURE, 1995:80). Tal “entidade psíquica” é
formada pelo conceito (significado) e pela imagem acústica (significante).
Estes elementos estão relacionados entre si, porém, não da forma baseada na
natureza das coisas, mas sim pelo fato de comporem o signo. Isto é, a relação
entre o significado e o significante não tem ligação com a realidade. Uma árvore poderia se chamar sapato. Só se chama árvore porque resolveram fixar tal significante ao objeto.
A
ARBITRARIEDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO
O signo linguístico é
arbitrário por não existir vínculo natural entre o signo e o objeto. Por
exemplo, “lua” em inglês é “moon”, enquanto no espanhol é “luna”. Podemos dizer ainda que o signo é
arbitrário por ser convencional, havendo mudanças no mesmo em outra língua. Com
isso, Saussure distinguiu claramente signo de símbolo: o símbolo não é
arbitrário, ele tem um vínculo com o significado; a cruz evoca muita coisa para
um cristão e não pode ser substituída por uma cadeira, por exemplo.
É preciso ficar claro,
porém, que o significado não depende da escolha de quem está falando e sim da
sociedade. Um indivíduo não pode simplesmente resolver chamar uma televisão de estante, pois não haveria coerência alguma. Tal mudança e/ou
criação depende de um grupo linguístico.
Contudo, Saussure aponta duas
objeções que poderiam ser feitas:
Onomatopéias: alguns podem pensar que as
onomatopéias não são arbitrárias, entretanto, é preciso ter em mente que além
de pouco numerosas, sua escolha é arbitrária, pois são uma imitação do som
realizado. Por exemplo, um miado em português é reproduzido como “miau” e em inglês como “meow”.
Exclamações: equivalentes as onomatopéias, as
exclamações também variam de língua para língua. Tomemos como exemplo,
novamente, o português e o inglês. Ao exclamar uma dor em português temos “ai!”, enquanto no inglês temos “ouch!”.
Não existe uma base para
discussão do signo, ou seja, não tem como discutir porquê uma cadeira é chamada
de “cadeira”, bem como não existe motivo para preferir blue à azul. “(...) a
própria arbitrariedade do signo põe a língua ao abrigo de toda tentativa que
vise modificá-la.” (SAUSSURE, 1995:87)
Analisando os signos, Saussure
concluiu que os mesmos são infinitos e inumeráveis. Isso se dá pelas diversas
combinações possíveis de letras disponíveis dentro da língua. “(...) os signos
linguísticos são inumeráveis” (SAUSSURE, 1995:87).
É praticamente impossível
modificar a estrutura de uma língua por esta ser “um mecanismo complexo”
(SAUSSURE, 1995:87). A língua é uma herança que foi construída com o passar dos
anos formando um elo com a sociedade.
A língua é de uso diário e
total, diferentemente do código Morse, por exemplo. Tal código só é conhecido
por usuários do mesmo. Suponhamos que, dentro de uma determinada sociedade,
todos falam a mesma língua, porém, apenas 5% dela é conhecedora do código
Morse. Isso faz com que a língua sofra mudanças constantes, diferentemente do código
Morse. “(...) A língua (...) é, a cada momento, tarefa de toda a gente (...)
não se pode estabelecer comparação alguma entre ela e as outras instituições.”
(SAUSSURE, 1995:88)
ARBITRARIEDADE
ABSOLUTA E ARBITRARIEDADE RELATIVA
Saussure aponta a
existência de um arbitrário absoluto e de um arbitrário relativo. “Apenas uma
parte dos signos é absolutamente arbitrária” (SAUSSURE, 1995:152).
Um exemplo de
arbitrariedade absoluta (signo imotivado) é livro,
enquanto livraria é um caso de
arbitrariedade relativa (signo motivado) por ser uma derivação da palavra
livro.
Em livraria, o conhecimento das duas partes que compõe a palavra, ou
seja, livr+aria é possível chegarmos
a livro, por isso o signo é motivado,
enquanto livro é a constituição total
do signo.
No livro Curso
de Línguistica Geral, Saussure aponta como exemplos os números: “Vinte
é imotivado, mas dezenove não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos
quais se compõe e outros que lhe são associados, por exemplo, dez, nove.”
(1995:152).
LINEARIDADE
DO SIGNIFICANTE
O
significante ou a imagem acústica está presente no caráter da expressão, ou
seja, da fala. Para construirmos uma frase no plano oral, selecionamos alguns
significantes que façam sentido dentro do contexto da mensagem que pretendemos
emitir e tais significantes são apresentados em ordem linear. Temos como
exemplo a frase de Charles Schulz: “A recompensa está no fazer”. Se tentarmos
expressar essa frase da seguinte maneira: “Recompensa a fazer está no”, não
haveria sentido algum. Por isso, o significante é linear, para que a frase
tenha coerência e seja inteligível.
AS
DICOTOMIAS DE SAUSSURE
Ao
contrário de outras ciências, a linguística trabalha com o ponto de vista para
a criação do objeto. Saussure definiu um
novo objeto de estudos para a lingüística, as dicotomias, que são apresentadas
a seguir:
LÍNGUA
X FALA
Também pode ser chamada de
Langue x Parole. O modo como a langue a parole se relacionam constituem a
Linguagem.
Para Saussure, a língua é
social, é “a parte social da linguagem (...) é uma espécie de contrato
estabelecido entre os membros da comunidade” (1995:22). Já a fala, é
individual, é a expressão da língua de maneira idiossincrática e momentânea, de
acordo com a natureza do indivíduo que discursa.
O mestre genebriano define
a língua como parte social da linguagem e a fala como parte individual desta.
O objeto de estudo de
Ferdinand de Saussure é unicamente a fala.
SIGNIFICANTE
X SIGNIFICADO
Uma das dicotomias mais
importantes de Saussure, explica que o nome dado a um objeto não é o objeto em
si, mas sim, a união do significante e do significado. O conceito, ou seja, o
significado é universal, enquanto a imagem acústica, isto é, o significante é
variável. Se pegarmos um gato, o animal peludo de quatro patas e mostrarmos a
um inglês e a um brasileiro, ambos reconhecem que gato é “gênero de mamífero da
ordem dos carnívoros, família dos felídeos, que compreende muitas espécies,
umas domésticas e outras selvagens.” (Dicionário online WEB). O significado é o
mesmo para ambos, porém se perguntarmos qual o gênero do animal, o inglês
responderia cat e o brasileiro gato, ou seja, o significante varia.
DIACRONIA
X SINCRONIA
A diacronia é o estudo de
uma língua através do tempo, comparando as mudanças na língua entre dois ou
mais momentos históricos. Tal dicotomia se ocupava em saber o motivo das
mudanças ao decorrer do tempo, porquê “vosmicê” se transformou em “você”. A
diacronia era usada no Comparativismo, para que pudessem encontrar a língua-mãe,
a língua que deu origem a todas as outras.
Já a sincronia, é o estudo
de um determinado estado de uma língua em um momento específico no tempo.
“É sincrônico tudo quanto
se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz
respeito ás evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão
respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução”. (SAUSSURE,
1995:96)
SINTAGMA
X PARADIGMA
O
sintagma é a combinação de duas ou mais unidades: “re-união”, “vários livros”,
“estudar linguística na universidade”. As relações sintagmáticas ocorrem quando
existem dois ou mais termos presentes, como observado nos exemplos acima. A
combinação sintagmática pode se dar nos níveis fonológicos (ca-ma),
morfológicos (menin-a) e sintáticos (um lindo dia).
O
paradigma é a associação das palavras que tem algo em comum, mas realizada na
base mental, em termos ausentes. Para tornar a relação paradigmática ou
associativa mais clara, tomemos o seguinte exemplo: a palavra aprender. Tal palavra faz surgir
diversas outras derivadas dela, como aprendizado,
aprendendo, aprendiz, todas no plano mental.
CONCLUSÃO
A partir desse estudo
podemos entender a base do Estruturalismo de Ferdinand de Saussure, que se
formou no início do século XX.
Como empirista, ele
acreditava que a língua está na experiência social e não no indivíduo, ou seja,
aprendemos as regras combinatórias com a sociedade em que vivemos. Seu objetivo
como linguista era compreender como essas regras eram formadas, como o falante
as adquiriam e como as operavam.
Sua teoria distingue fala
e língua, sincronia e diacronia, significado e significante, sintagma e
paradigma e prioriza o estudo da língua. Descreve ainda o signo e sua
arbitrariedade, sua natureza, distingue o signo do símbolo e exemplifica a
linearidade do significante.
Sua visão de linguagem
contribuiu e deu novos rumos para o estudo da Linguistica e seu conteúdo ainda
é alvo de críticas e reflexões.
BIBLIOGRAFIA
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso
de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995.
MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual
de Linguística. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
Escrito e pesquisado por: Mirian Regina Mendes